14 de março de 2011

CIEN Boletim Informativo Jornada Internacional RIO 2011

V Jornada Internacional do CIEN

10 de junho de 2011

A V Jornada Internacional do CIEN ocorrerá no Rio de Janeiro, no dia 10 de junho de 2011, das 9:00 às 13:00h, por ocasião do V Encontro Americano do Campo Freudiano. Esperamos dar continuidade à série, inaugurada em Buenos Aires, que privilegia a conversação sobre as experiências dos laboratórios do CIEN no Brasil e na Argentina.

Este Boletim 01 inicia uma outra série que pretende oferecer informações, textos de orientação e bibliografia concernentes ao nosso tema - Os corpos falam: como responder? - e apresentar-se como um espaço de publicação das contribuições dos colegas ao longo deste período preparatório ao nosso encontro em junho. Vinhetas dos laboratórios, comentários de filmes, textos, as mais diversas produções literárias e culturais serão bem-vindos.

Neste número, publicamos um argumento para iniciarmos nossas reflexões assim como informações sobre inscrições e apresentação de trabalhos.

Os corpos falam: como responder?

Boletim

Informativo 01

Março de 2011

Os corpos falam: como responder?

"...eu falo sem saber. Falo com o meu corpo, e isto, sem saber.

Digo, portanto, sempre mais do que sei. É aí que chego ao sentido da palavra sujeito no discurso analítico.

O que fala sem saber me faz eu, sujeito do verbo"

Jacques Lacan, Seminário 20, p.161

Afirmar que os corpos falam pode levar a buscar neles sinais que promovam uma dita “comunicação não verbal”1. Isto leva a reduzir o sujeito a sinais com os quais se pretende catalogá-lo, apreendê-lo sem equívocos, desconhecendo assim a divisão que lhe é própria e que foi evidenciada por Freud no dispositivo que criou para acolhê-la e fazê-la falar.

Freud soube escutar no padecimento e na agitação dos corpos um gozo estranho ao sujeito, que este não conseguia dizer, pois desconhecia esse elemento que era ao mesmo tempo o mais íntimo e o mais estranho. Lacan nos ensinou como as palavras fazem corpo, escrevem um modo de gozar próprio a cada um. O corpo é o suporte material do significante. Este corpo vivifica-se e mortifica-se, enfim, goza, somente pela incidência do significante. Desse modo, de acordo com a orientação lacaniana, verificamos que existe uma articulação muito precisa entre corpo, palavra e escuta.

No entanto, não são mais os analistas os únicos que estão advertidos de que há nas manifestações dos corpos das crianças e adolescentes que se agitam, que sofrem, algo que eles não conseguem dizer, e não sinais inequívocos de uma patologia a ser eliminada. Quando as diversas disciplinas que lidam com crianças e adolescentes pretendem eliminar essas inquietações dos corpos, terminam por sufocar o que há para ser escutado e acabam por proliferá-las, considerando-as como uma epidemia.

Hoje nos deparamos com sintomas sociais tão generalizados, e de sofrimento tão intensos, que ultrapassam o mal-estar da cultura descrito por Freud. Isto afeta tanto as crianças e os jovens quanto aqueles que se encarregam delas. Em vista disto, há um apelo ao tratamento destas questões pela união de várias disciplinas e práticas para buscar novas saídas para o impossível que se evidencia. Neste ponto, o CIEN e a psicanálise podem entrar com a prática de seus laboratórios para fazer frente ao empuxo dos discursos amos atuais, que tendem a disciplinar os corpos, calar os sujeitos para tentar suprimir o real do sexo, da castração e da morte. Portanto, estamos diante do resultado de dois grandes discursos - o capitalista e o da ciência - associados aos novos e sofisticados recursos técnicos, que afetam maciçamente o corpo dos sujeitos contemporâneos.

Vamos interrogar como os corpos respondem a esta nova lógica que se estabelece a partir da incidência do significante (fala do Outro social) na cultura.

Convidamos os profissionais que trabalham nos laboratórios do CIEN a transmitirem como respondem à fala dos corpos para fazer surgir o singular de cada sujeito.

Tomemos, por exemplo, o significante "hiperatividade" que designa uma grande parte das crianças na atualidade, e as submete a muitos tratamentos. Tornou-se um nome que as próprias crianças utilizam para se representarem, fechando-se assim à interpretação de seu sofrimento particular. O que ocorre com cada uma dessas crianças? O que as afeta? A que seus corpos infantis respondem? Por que não se acalmam? Por que as palavras são ineficazes? Por que não se pacificam apesar da solução, também generalizada, da ciência aliada à medicalização?

Os corpos infantis se agitam em excesso. Afinal, de que isto seria sinal? A psicanálise reconhece muitas vezes, no movimento incessante de muitas crianças, o sinal da angústia. A angústia é algo que precisamente se situa no corpo. Estes sujeitos teriam uma fala a ser liberada? São questões que queremos discutir, pois se o sofrimento histérico marcado no corpo tinha algo a dizer e Freud escutou, advindo disto um tratamento inédito, é necessário que, a partir de um não saber, possamos conhecer os novos sujeitos que nasceram sob as insígnias de outros significantes mestres, contidos no Outro – nos múltiplos amos contemporâneos, não mais regidos pela lógica do ideal, que se apoiava nas tradicionais figuras de autoridade paterna. Se a autoridade hoje está representada e é delegada aos especialistas, aos que “sabem”, qual a margem de ação nas escolas?

Como dar voz às crianças e jovens de hoje, na era do Outro que não existe, onde o corpo goza em excesso e os sujeitos se calam? Como escutá-los sem querer chegar à verdade última, que termina por se reduzir ao verídico. Como lhes oferecer a palavra para que eles possam apreender em seus equívocos, em seus tropeços, a divisão que lhes é própria, e possam se responsabilizar por ela e abrir caminho para novas soluções sintomáticas?

[1] Pierre Weil e Roland Tompakov: “O corpo fala - a linguagem silenciosa da comunicação não verbal”. Rio de Janeiro: Editora Vozes.

Critérios e prazo para o envio dos trabalhos:

Os trabalhos de laboratórios do CIEN Brasil, individuais ou coletivos, devem ser enviados até o dia 20/05/2011

Para anamarthamaia@gmail.com e para collier@terra.com.br

Os trabalhos devem respeitar as seguintes especificações:

- máximo de 8.000 caracteres;

- fonte: Arial, tamanho 12;

- espaçamento duplo entre as linhas;

- notas: usar somente nota de fim de texto; não usar nota de rodapé.

20/05/2011

data limite para envio dos trabalhos dos Laboratórios CIEN Brasil

Escolha dos trabalhos e dinâmica do debate

Pretende-se a composição de mesas e uma dinâmica de discussão nos moldes de uma conversação. Os trabalhos não serão lidos integralmente pelos autores. Isto será considerado na escolha dos trabalhos e na composição das mesas.

Pré-inscrição e recebimento prévio dos trabalhos

Realizaremos uma brochura eletrônica a ser enviada aos participantes da Jornada, com antecedência de uma semana.

Assim, solicitamos aos interessados que façam sua pré-inscrição, a partir do dia 20/03/11, com Ana Martha: anamarthamaia@gmail.com. Em torno do dia 03 de junho de 2011, a brochura eletrônica começará a ser enviada aos pré-inscritos.

Pré-inscrições a partir de 20/03/2011

Comissão Organizadora

Maria do Rosário Collier do Rêgo Barros, Beatriz Elena Udênio, Ana Martha Wilson Maia, Andréa Araújo Martinelli, Elena Nicoletti, Hernán Vilar, José Alberto Affonso Ferreira, Márcia Regina Lima Costa.

Comissão de Orientação e Coordenação do CIEN Brasil: Cristiana Pittella Mattos (Coordenação Geral), Teresa Pavone, Maria do Rosário C. do Rêgo Barros, Heloisa Prado Rodrigues da Silva Telles

Informações:

anamarthamaia@gmail.com





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